A toxicidade das tintas é sempre esquecida pelos incautos cheios de criatividade. Em geral tem-se como tóxica a tinta a óleo e como inócuas as tintas acrílicas, guache e aquarelas. A tinta acrílica não é inofensiva como se pensa e nem a tinta a óleo é a vilã do pedaço.
Há dois componentes básicos nas tintas: o pigmento e o aglutinante.
Muitos pigmentos são tóxicos ou irritantes para pele e mucosas. São mais ou menos refinados e mais ou menos puros, de acordo com o tipo e qualidade da tinta. Como exemplo de pigmentos tóxicos podemos citar os que são a base de chumbo, cobalto, cádmio, cromo, entre outros. Apenas o uso do chumbo em tintas, no Brasil, é regulado por lei – 11.762, que limita sua concentração a 0,06%:
Art. 2o É proibida a fabricação, comercialização, distribuição e importação dos produtos referidos no art. 1o desta Lei com concentração igual ou superior a 0,06% (seis centésimos por cento) de chumbo, em peso, expresso como chumbo metálico, determinado em base seca ou conteúdo total não volátil.
Os componentes tóxicos das tintas só provocarão doenças se forem inalados, ingeridos ou absorvidos pela pele e mucosas. Os artistas costumavam preparar suas próprias tintas e, para isso, manipulavam o pó que acabavam por inalar. O uso de tintas já prontas elimina o problema da inalação do pó, mas se sujar as mãos com as tintas, mesmo com as aquarelas, você corre o risco de absorver um pouco do pigmento e/ou aglutinante. Os danos à saúde, entretanto, só ocorrerão se o uso descuidado for por longo tempo (meses ou anos) ou se a quantidade absorvida for muito grande.
O aglutinante é outro problema. O óleo de linhaça usado atualmente nas tintas a óleo não é tóxico, pois o seu processamento elimina os componentes nocivos. Antigamente os artistas usavam o óleo cru, extraído a frio, por isso era tóxico. Entretanto, há um péssimo hábito de se usar solventes inorgânicos para limpeza de pincéis e das mãos. Tais solventes são altamente voláteis e tóxicos. Mas o que a maioria não sabe é que são absolutamente dispensáveis. Basta que se mantenha os pincéis mergulhados em óleo de linhaça enquanto se trabalha. Para limpá-los, é só mergulhá-los em óleo de linhaça, retirar o excesso com um trapo e lavá-los com água e sabão. De quebra você consegue conservar mais tempo o seu pincel, pois o solvente resseca os pelos e os torna quebradiços. O óleo, ao contrário, os mantém macios. O único inconveniente é o preço maior do óleo de linhaça, mas como “sua saúde não tem preço”, isso é insignificante.
A tinta acrílica, tida como inofensiva, na verdade, é bastante tóxica. Seu aglutinante é um polímero sintético altamente volátil, o que faz com a tinta seque rapidamente. Nesse processo, tais polímeros são inalados, portanto, ao usá-la, mantenha o ambiente bastante ventilado. Nunca use essa tinta em ambientes fechados.
As tintas deveriam trazer em seu rótulo o grau de sua toxicidade, mas não há uma regulamentação nesse sentido, no Brasil. Sempre procure tais informações e, se não as encontrar, mude de marca. A falta de conhecimento sobre a toxicidade das tintas representa um sério risco para a saúde, pois as pessoas se tornam descuidadas e deixam até crianças usarem o produto. Nem mesmo as tintas escolares possuem sua composição ou toxicidade claramente estampada nos rótulos das tintas brasileiras. Ainda temos o problema do descarte das tintas que estragaram ou se tornaram inservíveis e dos solventes inorgânicos usados. Não devem ser descartados nem na rede de esgotos e nem no lixo, mas, novamente, no Brasil não há alternativas razoáveis.
Recomendações:
Sempre trabalhe com tintas em ambientes ventilados; evite sujar as mãos e, caso isso ocorra, lave-as bem com água e sabão; caso tenha que manusear pincéis sujos para lavá-los, use luvas; se for usar solventes, evite os compostos derivados de petróleo; procure saber sobre os componentes das tintas que usa no site dos fabricantes; para as crianças, prefira lápis de cor ou giz de cera se tiver dúvidas quanto à qualidade da tinta.
Observação
Recebi uma pergunta por e-mail de Vitor Zuntini e, como achei que poderia ajudar alguém mais, transcrevo a pergunta e a responta a seguir:
Olá boa tarde tudo bem? Sou o Vitor, tenho 22 anos e sou profissional na área de comunicação visual.
Estive fazendo uma pesquisa sobre os malefícios das tintas que podem causar.
Pois bem achei seu contato e estou muito preocupado, pois comecei a trabalhar com 13 anos, sendo assim, fazem 9 anos que tenho contato direto com uma, que são chamada de eco solvente em um ambiente que possui ventilação mas ainda é um pouco abafado o recinto, eu queria saber quais os risco eu corro? (É uma máquina de impressão digital que faz adesivos) e qual profissional posso procurar pra me auxiliar se posso sofrer alguma coisa no futuro, desde já muito obrigado fico no aguardo
Boa noite Vitor.
Embora o eco-solvente seja mais brando que os solventes mais agressivos, ele é composto por etanol e acetona e provoca irritação e queimaduras nas mucosas, olhos e pele.
Exposição intensa ou prolongada a esses compostos podem afetar os rins, fígado e nervos.
Inalação constante pode provocar sonolência e tontura.
Num ambiente pouco ventilado, a solução é usar EPI adequado, incluindo a máscara própria.
Outra solução é usar exautores na área de trabalho.
Espero ter ajudado.
Atenciosamente,